Segunda-feira, 08 de Março de 2010

Eu tenho um sonho. Muitos aliás, mas há um que se destaca. Sonho o dia em que deixemos de ser como somos, em determinados aspectos. Anseio o dia em que a mentalidade pequenina que ainda hoje respiramos, oriunda da terrível e infelizmente, até agora, inesquecível época que foi o salazarismo, seja definitivamente apagada das nossas mentes. Suspiro pela altura em que nós, portugueses em geral, deixemos de ser tão apegados, pela negativa, às pequenas diferenças, às por vezes importantes mas não por isso reprováveis características que nos diferem, que nos distinguem e que nos tornam únicos. Sonho, enfim, o início de uma nova era, o aparecimento de novos valores sociais, com contribuições de relevo por parte de mais velhos e mais novos, em conjunto. Precisamos de uma significativa mudança cultural, em suma, mudança essa que tanto se apregoa, por vezes, mas que ainda não apareceu, e que tarda em dar sinais de vida.

 

Até quando concederemos sequer o direito de falar a quem contribui largamente, directa ou indirectamente, expressando-se verbalmente ou não, para que quem esteja dois centímetros, uma cor ou uma doença para além daquilo que são considerados os padrões físicos ou psicológicos da nossa sociedade não possa muitas vezes sentir-se seguro ou protegido ao andar pela rua? Esse “direito”, que consideramos de tal modo elementar que nem equacionaríamos porventura retirar a alguém, devia ser merecido, em alguns casos; os males resultantes dessa atribuição universal de cordas vocais que permite, em alguns casos, alimentar o ódio, a discriminação e a reprovação e violência perante as diferenças existentes entre cada um de nós são simplesmente catastróficos.

 

Retomando o meu sonho, um dos muitos que tenho, como referi, apenas peço que com a alteração geracional e com o afastamento progressivo da época marcada pelo representativo lema “Deus, pátria e família” nos demarquemos finalmente da mentalidade pequena que nos deixaram como legado, que abandonemos as ideias pré-concebidas acerca de “tudo e mais alguma coisa” e que finalmente assumamos a nossa posição enquanto seres humanos iguais a todos os outros, sem excepção, nos aspectos que deveriam ser considerados fundamentais.

 

Tendo para já tempo e vontade para escrever, aproveito para mencionar outro desejo meu. Algo que considero importante para o nosso desenvolvimento enquanto sociedade, que é o simples desejo de que comecemos a arriscar mais. Seja no que diz respeito a trabalho, à vida, à amizade, ao amor, a tudo o que consista na perseguição de sonhos que tenhamos e que possamos alimentar, basicamente.

Ainda como herança cultural dos quarenta e um anos mais pavorosos e mais lamentáveis por que este país já passou, foi-nos deixado um conservadorismo extremo, um medo de arriscar tremendo e um contentamento absolutamente injustificado por qualquer situação de vida que inclua apenas um telhado e uma mesa de jantar. Somos e merecemos mais que isso. Merecemos e devemos perder esse receio inebriante, que nos contagia e nos faz mais miseráveis de dia para dia, especialmente àqueles que têm um sonho de vida que desejam cumprir e não o fazem. Precisamos de evoluir, em muitos aspectos, e muitos de nós querem efectivamente que essa progressão tome lugar. Vamos aplicá-la, em cada um de nós, como uma introdução a essa mudança geral. Façamos algo por nós e pela restante sociedade; não desperdicemos sonho algum que tenhamos. 

 

Miguel Fraga 11ºD



donos das palavras pratadanossacasa às 18:18
Pois é, Fraga, um sonho comum a tantos homens em tantos eixos espácio-temporais. E o sonho deixa de o ser quando começamos, mesmo que aos poucos, a torná-lo realidade. Ou torna-se novo sonho, infinitamente.

Parabéns pelos objectivos e pela escrita!
Tiago Aires a 10 de Março de 2010 às 20:58

Esta é a nossa casa. A prata que lá temos são meninos, não de prata mas de ouro...
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