Simples, este foi um dos pioneiros na exploração surrealista na nossa nação, e para além de pioneiro foi um dos mais relevantes e assumidos escritores a levar a escrita para um mundo que permitisse ultrapassar barreiras físicas e até mesmo ideológicas, para um mundo onde o único limite é a não existência de limite e onde o exagero torna o ridículo a mais comum das aparições.
Não é fácil olhar para um poema e nada ver, nada ver para além das poucas, simples e míseras linhas e letras que ele contém, mas aprofundemos e reparemos que talvez todas essas linhas tenham um sentido, o sentido de ajudar a alinhar as letras, letras essas que por sua vez ajudam a alinhar as linhas. Há uma ajuda, um acordo, uma interacção mútua que não pode passar despercebida em tal poesia, toda a simples palavra tem um propósito, tem o propósito de nos fazer passar para além do além e de, ao ultrapassarmos tal feito, conseguirmos associar tudo ao nosso simples dia-a-dia, ao nosso quotidiano.
Não podemos agir de forma passiva, não podemos ler e engolir, ler e engolir, temos de perceber, temos de transferir o que nos é permitido de forma irreal para a forma real de possível concretização do ideal apresentado, não é por acaso que Cesariny escreve, não para o acaso que Cesariny escreve, não é sem acaso que Cesariny escreve.
David Duque, 10.ºE