Domingo, 04 de Abril de 2010

Às vezes revolta-me esta sociedade em que vivemos, o estado como os acontecimentos se desenrolam à nossa volta, e nós, inertes, tomamos uma atitude totalmente passiva mas não por isso menos expectante relativamente ao que nos está ou vai acontecer. É uma curiosidade apenas ao nível intelectual, que nos deixa incapazes de por em prática qualquer acção que possa vir a alterar o desenvolvimento de determinados assuntos, ainda que importantes para as nossas vidas. Somos totalmente dependentes daquilo que deixamos, sem interferir, que nos aconteça, por falta de capacidade crítica ou até por comodidade, e somos assim pequenos bonecos, figurantes na história da vida que vai sendo escrita sem parar um instante, sem perder um pormenor, e da qual nós nem chegamos a fazer parte.

Eu quero mudar, quero vencer este terrível paradigma, este quase inevitável obstáculo que nos está destinado enquanto seres massificados, idênticos aos passados e aos futuros, por uma ligação imutável de hereditariedade. Não tenciono mudar o mundo, está claro, mas pelo menos vou tentar dar o meu máximo contributo para que esta situação se altere, para que possa deixar de ser apenas uma cidadã igual a todas as outras. A passividade é o modo mais fácil de agir perante situações complexas, é um facto, mas será que com este tipo de atitude encontraremos a verdadeira resposta, a longo prazo, para os problemas? Está claro que não. E devemos então deixar que esse poder de decisão se restrinja a um grupo limitado de pessoas que, na maioria dos casos, pouco ou nada conhece sobre esses assuntos? Que nunca antes contactou com eles? E aceitaremos assim uma sentença dada por alguém totalmente estranho e alienado dos factos? Não era suposto que assim ocorresse, pelo menos num país onde se verifica um regime, a todos os níveis, democrático.

O grande problema do nosso povo, e da sociedade em geral, reside no facto de este não se achar no direito, ou sequer na capacidade de, de alguma forma, intervir. É um erro reincidente em que, perante a importância dos assuntos ou a eloquência (que muitas vezes não passa disso mesmo) de quem os debate, sentindo-se totalmente anuladas por tanta formalidade e aparato, muitas pessoas tendem a deixar-se levar.

E a ruptura deste sistema que, apesar de democrático, acaba por se mostrar injusto, passa muito pela mudança de mentalidades, por um salto importante na maneira de pensar e de ver o mundo. Urge, hoje, perante toda esta situação, a necessidade de intervirmos, nós, enquanto cidadãos, individualmente ou não, e defendermos as nossas causas, aquilo que acreditamos estar mal e que pode, com a nossa contribuição, melhorar.

Seria sonhar alto de mais se desejasse que todos pensassem como eu, e talvez, em termos práticos, a minha ideia fosse inconcebível, mas ainda mais inconcebível que tudo isto é a sociedade passiva que se tem vindo a desenvolver e da qual eu me pretendo destacar, diferenciar e não ficar agarrada ao estereótipo de uma cidadã-espectadora do que me rodeia. O mundo é demasiado grandioso, vivo, cheio de movimento para que tenhamos esta atitude leviana perante a vida. Esta é, sem dúvida, uma lição que quero dar aos meus filhos e netos, mas não sem antes lhes dar a oportunidade de conhecer o meu exemplo prático, a minha obra enquanto cidadã activa e preocupada com o bem pessoal e comum. Se pretendo ser grande e reconhecida? Não. Mas nesta jovem inocência acredito ser capaz de mudar o mundo.  

 

Joana Barros 11ºD



donos das palavras pratadanossacasa às 12:17

Escrevo e apago. Este é um tema que me deixa, mais do que qualquer outro, reticente, sem saber ao certo o rumo que as minhas palavras podem levar. Podia dizer tantas coisas, este é um dos assuntos sobre os quais mais tenho para dizer, por ter a sorte de escrever precisamente o que sinto, ou melhor, por conseguir sentir exactamente o que escrevo.

Não quero parecer demasiado prematura a falar sobre isto, pois é costume ser algo discutido por pessoas bastante mais velhas que eu, que abordam o tema apenas como uma recordação, ou um conjunto delas. Eu tenho, felizmente a sorte de falar no presente e de poder viver cada segundo de uma das fases mais bonitas da vida de qualquer pessoa, a juventude.

Não sei ao certo se esta deveria ser a minha maneira de pensar, considerando a minha idade. Como já referi, é um tema que, tal como muitos outros, vejo ser discutido por faixas etárias superiores à minha, mas é curioso que por vezes me sinto tentada e entrar na discussão, talvez pela minha enorme curiosidade e atenção acerca de tudo o que me rodeia. Não obstante, acabo por ficar sempre pela tentação já que considero não ter a credibilidade nem mesmo a sabedoria necessária para ser capaz de tais considerações, dai que me fique pelo papel, onde sei que serão poucos os meus interlocutores, e onde sinto a liberdade que necessito para me expressar

Tenho receio que a juventude me escape por entre os dedos. Às vezes pela mínima coisa discutimos, choramos, perdemos tempo, ganhamos rugas. Será que ainda não percebemos que provavelmente estamos a viver a melhor época das nossas vidas? A única em que as responsabilidades ainda são poucas, mas na qual já temos maturidade suficiente para aproveitar ao máximo todas as experiências. O que mais queria era eternizar a juventude, aliás, quem não queria? Todos os dias descubro algo mais que a vida me pode mostrar. Todos os dias conheço pessoas, conheço locais, vivo momentos inesquecíveis. Se a nossa juventude é o espelho da vida adulta, então, no futuro, conto ser uma adulta muito feliz. Os amigos que fazemos hoje, são possivelmente os que mais nos acompanharão amanhã e depois, é nesta fase que se fazem amizades de uma vida. É agora o tempo das aventuras, das descobertas, das histórias e das vivências que ficarão marcadas e que nos acompanharão por toda a nossa existência, até que as transmitiremos para outros, de forma a eternizá-las nas gerações. E é na juventude que escolhemos o que somos, é nesta fase que, retirando o melhor de tudo o que conhecemos, temos a oportunidade de construir a nossa pessoa, daí que seja inerente à juventude a capacidade de imaginar, criar, inventar    (-se).

As dúvidas e controvérsias tão características, todas as hesitações e debilidades de quem não tem ainda a personalidade totalmente construída, mas espera ansiosamente a próxima etapa, o próximo desafio que a vida lhe proporcionará, tudo é, claro, partes de uma etapa, de um dos degraus mais importantes e marcantes da vida. Daí o meu grande medo de não aproveitar tudo aquilo que devia, de não vivenciar tudo o que era suposto e de não crescer atempadamente, dando demasiada importância aos pormenores e deixando que as fraquezas se apoderem do que sou.

Hoje, hesitante, escrevo e apago, na incerteza de que aquilo que disse foi claro e explícito, mas com a maior garantia de que o que disse foi, palavra a palavra, totalmente sentido.



donos das palavras pratadanossacasa às 12:16

Como o tempo passou! Ontem, ao entrar naquele quarto que outrora era digno de um palácio real, apercebi-me de como tudo muda com o tempo. Tudo envelhece, perde a cor, tal e qual a memória. E do pouco que me lembro da minha mais longínqua infância, aquele sempre presente quarto recordo até ao mais ínfimo pormenor. Sou até capaz de sentir agora o que senti há anos, quando lá entrei pela primeira vez. A admiração e a curiosidade típicas da idade fizeram aquele espaço misterioso ainda mais mágico. 

Logo à entrada, um pequeno corredor que dava acesso a uma sala com duas divisões. A primeira, decorada com muitos quadros de moldura trabalhada; dizia o meu avô que tudo aquilo eram obras únicas, de pintores consagrados, ou então fruto de mais um dos seus devaneios artísticos. As paredes, forradas com um papel florido de várias cores, um pouco desgastadas pelo tempo, lembravam-me a primavera que tanto ansiava todos os carnavais em que chovia. A mobília daquele quarto era feita de uma madeira escura, pesada e quente, e tornava-o preenchido de uma forma subtil, com todos os seus rendilhados e esculpidos tão belos. Recordo-me perfeitamente da figura de um anjo envolvido num enorme lençol, a imagem que mais me chamava a atenção, e que me fazia imaginar como que uma história narrada por todos aqueles pormenores esculpidos. À direita da porta, uma cómoda grande, das maiores que alguma vez vira até à data, e que ainda hoje, apesar de saber que a razão da sua grandeza era simplesmente a minha pequenez, recordo como sendo bastante robusta. Mesmo assim, além de umas quatro ou seis gavetas que possuía, esta suportava apenas uma pequena jarra com orquídeas amarelas, que pareciam sempre frescas e acabadas de colher, e uma fotografia a preto e branco, de tempos longínquos, eficazmente emoldurada com vidro e prata muito trabalhada, quase identicamente aos móveis. Acima desta, na parede, um crucifixo dourado, que o tempo quis que perdesse o brilho, mas que representava fielmente aqueles que estava habituada a ver nas igrejas, sempre que ia à missa com a minha avó, todos os domingos, e que simbolizava inequivocamente a catolicidade daquela família nortenha. Um pouco mais ao lado, a cama, com imensos desenhos esculpidos de forma muito elegante e subtil, desde as flores às trepadeiras, muito semelhantes às das mesinhas de cabeceira, ambas também robustas e espaçosas, que realçavam a cama, situada entre as duas. Não posso deixar de falar de um outro elemento daquele quarto pelo qual sentia imensa admiração: um enorme e confortável cadeirão onde passava grande parte dos meus dias, ora no colo do meu avô, ora sozinha e atarefada com as bonecas. Este foi um grande companheiro nos dias de chuva, onde me sentava aconchegada a observá-la do outro lado da janela, e até mesmo nos dias de verão, quando, ao início da tarde, a minha avó fechava carinhosamente a persiana e me deixava ali a dormir, naquele inigualável sofá.

A outra parte do quarto, bastante mais pequena mas igualmente acolhedora, estava separada do primeiro espaço por uma densa cortina de veludo bordô, que estava normalmente aberta, mas que, quando fechada, era uma grande aventura abrir e, mesmo sabendo o que ia encontrar, ‘descobrir’ os segredos que lá se guardavam. E a questão é que segredos, ali, não faltavam! Do outro lado dessa mesma cortina, havia um grande armário, da mesma linha do resto da mobília, que ocupava toda a parede maior. Era ali que estava guardada toda a roupa da minha avó, juntamente com as jóias, as carteiras e as maquilhagens com as quais eu tanto brincava. E mesmo apesar de mexer e remexer aquele armário vezes sem fim, em todos os momentos que lá ia encontrava algo novo, algo, para mim, insólito, que fazia questão de explorar e compreender (há que realçar que muitas das coisas que lá encontrava não me serviam de muito porque não chegava a perceber a sua utilidade). No chão, uma carpete em tons de verde e bordô, que combinava perfeitamente com a cortina, (principalmente quando eu não estava lá e fazia questão de a manchar com sombras, batons e migalhas das inconfundíveis torradinhas da minha avó) mas que dava um ar preenchido à pequena divisória. Ainda assim, havia um quadro na parede direita, o retrato da minha tia, ainda criança, com um cão, ambos com um ar de felicidade como poucas crianças tinham na época em que foi pintado. A moldura, simples e castanha, que o envolvia, por ser assim deixava que a pintura brilhasse por si e tornasse o quarto alegre, de forma a deixar qualquer um ali, parado, a olhar para si.

Ontem, quando lá entrei, vi as marcas do tempo, o desgaste da idade, a tristeza da velhice. Não estava à espera de algo tão diferente, como o que me surgiu perante o olhar. Assusta-me agora a maneira como o tempo actua sobre coisas, sobre as pessoas. Perde-se tanto, esquece-se tanto! Mas ainda assim, depois de os anos passarem, e apesar de o quarto estar agora vazio e quase sem cor, há sempre o mistério tão típico daquele espaço, que nunca será perdido, ou, pelo menos, esquecido. É verdade, como o tempo passou! Mas a magia? Essa permanece.

 

 



donos das palavras pratadanossacasa às 12:15

Quem sou eu?

 

 

Podia pôr-me para aqui a tentar definir-me enquanto «eu», enquanto pessoa, ser humano, mas acho-me demasiado racional para isso. Consigo identificar-me com pequenas coisas da vida, que ocorrem tão naturalmente à minha volta, conseguindo assim descomplicar muito daquilo que vejo. Posso-me considerar um aglomerado de células que, interligadas, trabalham para me manter viva. Posso também ser apenas mais um da minha espécie. Posso até nem ser nada, ninguém. Quem é que me diz que tudo o que vivo não é apenas um sonho como tantos outros que já sonhei e que acabaram tão repentinamente? Daí a complexidade da questão, e no fundo, a complexidade do «eu».

Tenho a perfeita noção de que sou de facto um ser bastante complexo, porque se assim não fosse não seria tão difícil de responder à questão.

Às vezes penso que cada um é aquilo que quer ser. Uns dias sinto-me paz, outros, sol, outros, música. Por vezes acho que sou sombra, escuridão, mas o meu estado normal é sentir-me cheia, cheia de mim! E o que é isso de estar cheia de mim? Questão que implica mais questões, e mais uma vez, implica reflexão, implica saber exactamente aquilo que se procura. E como encontrar uma resposta numa infinidade de informação? Eu quero saber quem sou, isto não devia ser assim tão complicado! Quem melhor do que nós mesmos para nos conhecermos? Agora me apercebo dos anos que vivi sem pensar nisto. Talvez por preguiça, o que é facto é que nunca antes tinha reflectido sobre este tema. E agora que o faço, vem-me um turbilhão de ideias à mente, tantas que não me sinto capaz de as expressar no papel.

Se disser que sou a Joana, considero-me apenas um nome, algo vazio, sem significado. Mas como é que posso descrever algo indescritível? Dizer que sou curiosa, teimosa, sorridente, ambiciosa, complicada…não chega.

Posso portanto dizer que sou uma imensidade de coisas, um mar de emoções e de sentimentos. E tudo depende de quem me vê. Para uns posso ser muito, para outros quase nada. É estranho como «quem sou eu» é um conceito tão relativo. E é engraçado como ainda não consegui chegar a nenhuma conclusão.

Noto então que eu sou apenas eu. Posso ser tudo, e não ser nada. Apenas, SOU! 

 



donos das palavras pratadanossacasa às 12:14
Esta é a nossa casa. A prata que lá temos são meninos, não de prata mas de ouro...
Colégio Dom Diogo de Sousa

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